Locavorismo: Valorização dos Pequenos Produtores e dos Comércios Locais

Entre as mudanças de comportamento do consumidor está à valorização da economia local e do pequeno produtor. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, essa tendência tem impulsionado um tipo específico de comércio alimentício, denominado de locavorismo, que é a prática de comprar alimentos apenas de produtores ou de pequenos comerciantes da região, priorizando e dando força para os varejistas locais.
Nos anos 2000 surgiram alguns movimentos ligados à alimentação com o objetivo de promover, dentro das possibilidades, que a pessoas dessem prioridade de consumir os produtos agrícolas produzidos pelas cidades da região onde residem. Entre esses movimentos se destaca o locavorismo.
Esse termo foi usado pela primeira vez em 2005 por um grupo de mulheres da região de São Francisco, na Califórnia, que desafiaram as pessoas da cidade a se alimentar daquilo que fosse produzido dentro de um raio de 160 km da região central. Desde então vem ganhando adeptos mundo afora.
O professor e especialista em sistema alimentares locais e regionais, Philip Ackerman-Leister diz que antes de existir um termo específico, o locavorismo já existia, pois em um passado remoto era a única opção existente para consumo de alimentos, assim “o locavorismo, antes de ser uma nova forma de consumo, é um movimento pela revalorização de formas tradicionais de acesso ao alimento”.
A preferência pela compra e consumo de alimentos produzidos próximos onde se reside é uma prática que há muito tempo é comum nas cidades pequenas, porem nos últimos anos sua presença se tornou constante também nas cidades grandes. A valorização dos métodos produtivos que não agridem o meio ambiente contribuiu para dar mais visibilidade a essa prática.
Com o locavorismo cresce a possibilidade de adquirir produtos mais frescos e com melhores preços, diferente do que acontece com produtos transportados através de longas viagens até chegarem aos grandes mercados.
Cabe ressaltar que locavorismo não leva em consideração apenas a distância percorrida pelo alimento até chegar ao consumidor, mas também a quantidade de intermediários e o método produtivo e seus impactos ao meio ambiente. O professor Philip Ackerman-Leister vai além, quando incorpora a esse fator elementos como senso de pertencimento e os laços que se estabelecem entre produtor e consumidor.
Os adeptos do locavorismo, que são conhecidos como locávoros, buscam manter sua relação com o meio ambiente com equilíbrio e sustentabilidade. Se for preciso este perfil de consumidor está disposto a reduzir o consumo de um alimento que demanda mais recursos para produção e deslocamento.
Entre os produtos mais procurados por esse público estão as frutas, legumes e verduras orgânicas, peixes e outros frutos do mar, biscoitos, bolos, geleias, mel, queijos, pães caseiros que são produzidos e vendidos pelo produtor ou por algum ponto de venda da localidade onde residem ou das cidades vizinhas.

Visão Crítica do Locavorismo

Apesar de ser uma tendência que traz benefícios para a saúde do consumidor e para ajudar o comércio local a se manter no mercado, há alguns questionamentos sobre os potenciais efeitos do locavorismo. Como por exemplo, a emissão de gases que não deve ser considerada apenas a causada pelo transporte, mas também a que ocorre em todas as etapas da produção do alimento.
Pesquisadores afirmam que a mudança da dieta alimentar, como a redução do consumo de carnes vermelhas é uma das formas mais efetivas de diminuir o impacto ambiental da produção de alimentos.
Outro questionamento dos críticos dessa tendência é acerca da variedade alimentar, que dependendo da região, pode reduzir as opções de variedades de alimentos, visto que alguns alimentos precisam de condições específicas para ser cultivados e esse fator pode fazer com que a dieta das pessoas se torne menos nutritiva e diversificada.
Outro problema é que o locavorismo pode criar uma nova modalidade de consumo restrita ao público de alto poder aquisitivo e acabar elevando os preços de produtos com o selo “local”.
Neste sentido o Sebrae alerta que é muito importante esclarecer e informar as pessoas sobre os eventuais efeitos de cada uma das formas de exercer o locavorismo.

Ações Que Podem Ajudar os Pequenos Varejos Atraírem os Locávoros

Independente do segmento, os pequenos produtores e pequenos varejistas que queiram impulsionar seu negócio, potencializar as vendas e atrair cada vez mais o consumidor das redondezas uma sugestão é adotar boas estratégias, focar no bom atendimento, deixar bem claro para o consumidor os processos da empresa e usar as redes sociais para que seu estabelecimento seja encontrado pelos moradores de bairro e das cidades vizinhas.
Destacamos abaixo, quais empreendimentos pode se beneficiar com o locavorismo e o que deve fazer para atrair os consumidores locávoros.

  • Restaurantes: podem estabelecer uma rede de fornecedores locais de alimentos frescos, vegetais orgânicos, carnes e outros insumos para o preparo do cardápio;
  • Autônomos que comercializam marmitas: podem preparar as marmitas com um toque caseiro com os insumos produzidos na região onde residem;
  • Feiras livres: promovidas nos bairros esse tipo de comércio é uma excelente oportunidade de comercializar a produção local e aproximar os pequenos produtores dos consumidores;
  • Padarias artesanais: sempre que possível podem fazer os pães com os insumos locais, como geleias e queijos feitos por produtores da região, adotando um perfil tradicional ou mais sofisticados e mantendo as características artesanais da produção.

Conhecer os prós e os contras do locavorismo, seu impacto direto na cadeia de alimentos e que essa prática de consumo já vinha em andamento e ganhou contornos especiais devido às restrições impostas pela pandemia é essencial para entender que alguns modelos de negócios podem se beneficiar mais que outros com esse estilo.
Não resta dúvida que “não é preciso e nem possível em alguns locais, alimentar-se exclusivamente do que é produzido na região. O conceito deve ser visto sempre sob essa perspectiva de flexibilidade e possibilidade de cada cidade”.

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